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Ponto de Fuga

Ponto de Fuga

Montemor o Novo: De dentro para fora das muralhas

26.04.23 | Miguel Frazão

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Assim que o autocarro entrou pelas ruas empedradas de Montemor-o-Novo olhei pela janela e tentei fixar o que me aparecia à frente, como se minutos depois me fossem perguntar tudo aquilo que vira, numa espécie de jogo da memória. Passei por alguns cafés e restaurantes, vi as antigas piscinas municipais e o cemitério. Gosto de viajar para cidades pequenas para que possa ir encontrando as principais atrações sem ajuda externa, correndo o risco de me deparar com elas mais do que uma vez. Em Montemor fui convidado pelo Hugo, o anfitrião do Monte de Santa Margarida, para participar no Paddy Paper que nos ia levar a conhecer a cidade. Naquela tarde de sábado, as perguntas que normalmente faço ao Google foram-me respondidas pelo Hugo. Não saímos vencedores da competição, mas a história de Montemor-o-Novo dificilmente me sairá da cabeça.

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Mercado Municipal

O meu passeio começou no mercado, ainda que apenas tenha tido oportunidade de ver o exterior, já que ao sábado encerra às 13h.

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É lá que se compra a carne, o azeite e os cereais regionais, até porque a economia de Montemor-o-Novo é maioritariamente rural. Não são precisas placas informativas a dizê-lo. Os painéis de azulejos que decoram o exterior do edifício falam por si. Podemos ver representações de profissões, como as ceifeiras e os guardadores de rebanhos, assim como cenas da vida rural, que vão desde a tiragem de cortiça à apanha da azeitona.

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O passeio em direção ao Castelo prossegue com a curiosidade a amenizar o calor que se fazia sentir àquela hora.

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Rua Teófilo Braga

Foram raras as pessoas com que me cruzei nas ruas de Montemor. O centro histórico estava quase deserto. Percorri a Rua Teófilo Braga num silêncio que me levou a imaginar como seria a antiga Rua Direita na Idade Média, já que na época esta era uma das mais movimentadas da cidade. É aqui que podemos encontrar também uma das Santa Casa da Misericórdia mais antigas de Portugal.

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Rua do Quebra Costas

A Rua do Quebra Costas ganhou o meu respeito assim que me falaram dela pela primeira vez.

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Para se chegar ao Castelo não há como evitar esta rua. Na verdade, há. Mas quem vai a Montemor não terá uma experiência completa se fugir à subida que começa numa rampa, cuja inclinação vai aumentando ligeiramente à medida que se avança, e termina numa sequência de 87 degraus. Enquanto a percorremos existe uma imunidade ao cansaço, que se esvai assim que alcançamos o topo das escadas e finalmente nos aproximamos do castelo.

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Castelo de Montemor-o-Novo

O castelo de Montemor-o-Novo remete-nos para os tempos de guerra entre cristãos e muçulmanos. Depois de as tropas de D. Sancho I conquistarem o castelo aos Mouros, iniciou-se o processo de construção das muralhas. O objetivo era fixar e proteger a população.

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Muralhas do Castelo de Montemor-o-Novo

Quem atravessa a A6 ou a N2 poderá vir a deparar-se, ao longe, com uma das maiores muralhas do país. No século XIV tinham cerca de 1600 metros de extensão. A sua construção demorou mais de 150 anos.  Aqueles que se aventurarem a subir a Rua do Quebra Costas terão a oportunidade de andar nas muralhas e apreciar a vista panorâmica para a cidade.

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Porta da Vila e Torre do Relógio

Entrei no castelo pela Porta da Vila. O som dos pássaros intensifica-se. Os espaços livres que se formaram com a deterioração do castelo servem agora de abrigo às aves, protegendo-as das condições meteorológicas adversas. Junto à Porta da Vila ergue-se a Torre do Relógio, na qual se inseriu também a Casa do Guarda.

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Porta e Torre da Má Hora

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O terramoto de 1755 contribuiu para a destruição de grande parte das muralhas. É por isso que dá para caminhar apenas sob alguns troços. Consigo subir as escadas de acesso à Torre da Má Hora.

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Por baixo temos a Porta da Má Hora. Reza a lenda que o nome desta porta foi dado pelos muçulmanos por se terem esquecido de a fechar numa das noites, permitindo a entrada dos cristãos, que acabaram por conquistar o castelo.

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A minha caminhada leva-me ainda até à Porta e Torre do Anjo, assim como ao local onde se situava a já inexistente Porta de Évora.

 

Paço dos Alcaides

Apesar de estar praticamente em ruínas, o Paço dos Alcaides é uma das zonas do castelo de visita obrigatória.

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Foi aqui que, em 1288, D. Dinis pediu autorização ao Papa para a fundação dos Estudos Gerais em Portugal, dando origem à Universidade de Coimbra. Neste edifício onde se alojavam os monarcas que vinham a Montemor também se ultimaram os planos da Viagem Marítima à Índia, assinada por Vasco da Gama.

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Saio do castelo por onde entrei. Pela Porta da Vila. Observo agora a cidade que no século XV se deslocou do interior das muralhas para junto das vias que ligam Montemor a Lisboa, Évora e Beja.

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Ainda longe, num outro monte, encontra-se a Ermida Nossa Senhora da Visitação, onde se celebra a missa no primeiro domingo de cada mês.

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Para lá chegar, há que descer a Rua do Quebra Costas e atravessar a cidade rodeada de casas, em cuja construção se aproveitaram pedras que outrora pertenceram às muralhas do castelo. Num dos dias fui de carro. No outro fui a pé, entre as sombras e os silêncios que mais tarde me levaram ao autocarro sem que apanhasse uma insolação.

 

Onde dormir em Montemor-o-Novo?

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O Monte de Santa Margarida fica a 2km do centro histórico de Montemor-o-Novo e foi o alojamento local que me recebeu para que pudesse elaborar o roteiro da cidade. Estão disponíveis dois apartamentos, um com capacidade para 10 pessoas e outro para 6 pessoas. O espaço tem piscina disponível e trata-se de uma quinta com cerca de 5 hectares, onde podemos encontrar cães, ovelhas, cabras e pavões.

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As reservas podem ser feitas através do Booking. O anfitrião, Hugo Alvas Pinto, está disponível para responder a eventuais questões através do email: monte.santa.margarida@gmail.com

Texto e fotos: Miguel Frazão

É à mesa que se contam as histórias

Montemor-o-Novo, Alentejo

19.04.23 | Miguel Frazão

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Antes de cada viagem tenho por hábito pesquisar um pouco sobre o local para onde vou. Montemor-o-Novo não fugiu à regra. Antes de lá chegar sabia já que foi no castelo, mais precisamente no Paço dos Alcaides, que se tinham acertado os planos da primeira expedição marítima à Índia. Embora também já conhecesse alguma da gastronomia alentejana, provar as tradicionais empadas de galinha estava na minha lista de coisas a fazer. Preparo as viagens para evitar regressar a casa e reparar que me escapou um pormenor importante. Em Montemor não me esqueci de nada, ainda que na minha pesquisa me tivesse falhado algo – a passagem da mítica Estrada Nacional 2.

O autocarro chegou perto da hora de almoço, àquela que também é conhecida como a “cidade dos semáforos”. O Hugo apanhou-me na estação e deu-me boleia até ao Monte de Santa Margarida, onde fiquei instalado. À chegada conheci a sua mãe, que estava na cozinha, e o pai, que conversava com um amigo enquanto grelhava as douradas.

A Fátima, o Manuel e o Hugo lançaram-me o convite para almoçar. Aceitei, é claro. Sentámo-nos à mesa, montada no quintal com vista para o campo. A acompanhar as douradas havia salada. Para beber, um rosé. Troquei este último por um copo de sumo de laranja. O almoço foi muito para além do que estava no prato. Não se falou de futebol, nem da inflação. Partilhámos memórias. Enquanto eu estava no autocarro, a família Pinto percorria 20 Km a pé, no troço da Estrada Nacional 2 entre o Ciborro e Montemor. O cansaço físico não era notório. Mas qualquer um reparava na sua felicidade por terem passado a manhã a acompanhar a atleta que se desafiou a percorrer os 739, 26 Km desta estrada que liga Chaves a Faro, numa ação solidária. O caminho é feito das pessoas com quem nos cruzamos. Os imprevistos fazem com que dali venham histórias para contar.

Da Nacional 2 a conversa mudou para o Caminho de Santiago. Fizeram-no já algumas vezes, sempre com trajetos diferentes. Tal como este almoço não se restringiu à comida que nos foi servida, também o Caminho de Santiago vai para além da fé que os move. São as pessoas que conhecem e se tornam amigas, os albergues que de um momento para o outro já não têm vaga para eles, o sapato que se perde, a mochila que no ano anterior veio pesada e agora já vem mais leve. De repente, dou por mim a sentir-me parte daquele almoço de família, apenas porque o Hugo, com a sua humildade; o Manuel, com o seu sentido de humor; e a Fátima, com a sua delicadeza, tiveram a generosidade de permitir que eu também pudesse entrar de alguma forma nas suas vidas.

Foi esta generosidade que me ocupou o pensamento enquanto, nessa tarde, subia os 87 degraus da Rua do Quebra Costas, cujo nome é uma espécie de franchising porque também existe uma rua em Coimbra e no Funchal com a mesma designação. Na companhia do Hugo fiz um Peddy Paper que me levou a conhecer a cidade de uma forma diferente. Visitei o Castelo, como tanto queria, e as empadas de galinha também não faltaram naquela tarde.

Montemor-o-Novo é um lugar calmo. Silencioso, diria. O sossego é apenas interrompido pelos insetos que aos poucos se vão alojando na nossa roupa. No entanto, também eles, tal como eu,  acabam por seguir o seu caminho.

Culatra, Hangares e Farol: O caminho para a sustentabilidade, o passado que não se deixa esquecer e a vista para o ponto mais a Sul de Portugal

13.04.23 | Miguel Frazão

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Quando decidi passar um fim de semana em Olhão, a visita à Ilha da Culatra era um dos planos que mais desejava concretizar. Lembro-me que ainda antes de chegar ao AL Casa Grande, onde fiquei hospedado, já tinha no telemóvel uma fotografia enviada pela Cristina com os horários dos barcos para a Culatra e Farol, a partir do cais de Olhão.

O plano passava por seguir para a Culatra no barco que partia às 7h da manhã. Era o primeiro do dia. Antes de chegar à Culatra, o barco faria uma paragem na Ilha do Farol. Podia perfeitamente sair logo no Farol e no regresso viria diretamente da Culatra para Olhão, mas queria que a viagem fosse mais demorada. Precisava de tempo para ver o nascer do sol, apreciar a beleza da Ria Formosa, ver Faro de uma outra perspetiva e ter um primeiro contacto com a Culatra, Hangares e o Farol. Ainda que possam ser designadas como ilhas diferentes, as três aldeias pertencem ao mesmo troço de areia, que tem entre 6 e 7 km de extensão e cerca de 750 habitantes permanentes.

 

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Ilha da Culatra: o caminho para a sustentabilidade

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Desembarquei na Culatra, já depois do nascer do sol. A maré estava vazia e os pescadores percorriam as ruas, que não passam de finos empedrados por cima da areia, em direção às suas embarcações ou aos viveiros. Em toda a Ria Formosa estão registados 1041 viveiros para a produção de ameijoa-boa e ostras.

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Passear na Culatra não se resume a andar junto da ria ou na praia. Passa também por deambular pelas ruas delimitadas por casas rasteiras e nas quais apenas se circula a pé ou de bicicleta.

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É precisamente na ausência de carros que a Culatra começa a caminhar em direção à sustentabilidade. A eletricidade só chegou à aldeia nos anos 90 e os esgotos e água potável foram uma conquista do início da década passada, mas a Culatra tenta compensar os atrasos no saneamento básico ao ser uma das seis ilhas selecionadas para servirem de projeto piloto, naquele que se espera ser o caminho para a autossuficiência energética.

Depois de passar junto da escola, da igreja e do centro de ação social, entro no passadiço que me leva até à praia da Culatra. O destino agora é a Ilha do Farol, até porque conto apanhar o barco de regresso a Olhão, pelas 12:45h, no entanto, entre as duas aldeias fica aquela que parece esquecida por muitos – Hangares.

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Ilha dos Hangares: o passado que não se deixa esquecer

Apenas 95 pessoas podem dizer que vivem em Hangares. Há um cais de chegada para os barcos, mas há muitos anos que não há nenhuma ligação entre as cidades de Olhão e Faro e a aldeia.

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O único contacto que tive com Hangares foi durante a travessia de barco. Para além das casas que por lá ainda existem, o que salta à vista é o arame farpado. É esse arame farpado que leva os mais curiosos a descobrir a história da ilha, assim como a origem do nome que lhe foi atribuído.

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Durante a Primeira Guerra Mundial foi ali que construíram dois hangares para que pudessem aterrar os hidroaviões que faziam a vigilância aérea entre Vila Nova de Mil Fontes e Vila Real de Santo António. 

O arame farpado é uma obra já dos anos 60. Com Hangares sob o domínio da Marinha Portuguesa, decidiu-se construir aquele que viria a ser apelidado de Polígono de Tiro da Culatra, onde se inativavam explosivos. Em 1998 o Polígono de Tiro foi abandonado e hoje resta o arame farpado para assinalar a existência de Hangares, a aldeia à qual só se chega desembarcando na Culatra ou no Farol.

 

Ilha do Farol: a vista para o ponto mais a Sul de Portugal

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O meu passeio terminou na Ilha do Farol. Nos dias que correm, no núcleo do Farol, o ambiente de aldeia contrasta com a massa turística que frequenta a praia e os bares/restaurantes.

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Ao longo de toda a manhã, quer estivesse na Culatra ou em Hangares, o Farol de Santa Maria surge quase sempre no enquadramento de qualquer fotografia. Para subir os 220 degraus e alcançar o topo do Farol que tem 46 metros de altura e alcance de cerca de 25 milhas (cerca de 40km) é preciso que seja quarta-feira. Ainda assim, não é necessário ir para um sítio tão alto para se ver o ponto mais a Sul de Portugal - o Cabo de Santa Maria, situado na Ilha Deserta, a ilha vizinha do Farol.

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Informações essenciais:

Horários dos barcos: Olhão – Culatra – Farol

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Preços dos Bilhetes:

Olhão - Culatra – 2 euros

Olhão - Farol – 2,30 euros

Texto e fotos: Miguel Frazão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aqui há boa gente

Olhão, Algarve

03.04.23 | Miguel Frazão

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Já passava da meia noite quando decidi que iria acordar seis horas depois para apanhar o primeiro barco que saía de Olhão em direção à Ilha da Culatra. Queria ver o nascer do sol. Pelas minhas contas, estaria provavelmente no barco a essa hora. Embarquei ainda de noite na companhia dos pescadores que veem na maré vazia uma oportunidade de averiguar se há marisco nos viveiros.

O sol nasceu, mas a aldeia da Culatra mantinha-se adormecida. Talvez por ter menos de mil habitantes a lá viver. Cruzei-me com um ou outro pescador que já se aventurava a desemaranhar as redes para se fazer ao mar. Ou melhor, à ria. No meu caso fiz-me ao mar. É lá que se apanha conquilha. Passei a manhã entre a Culatra, Hangares e o Farol. Pertencem ao mesmo troço de areia, mas são aldeias diferentes. Parecem-me ser autónomas em relação à cidade de Olhão. Têm escola, infantário, igreja, supermercado e centro de ação social. No entanto, a forma como se vive essa autonomia leva-me a sentir que a distância entre a ilha e a cidade pareça maior do que distância física. Veem-se entrar no barco pessoas cheias de sacos e malas, à semelhança daqueles que passam a semana nas grandes cidades e ao fim de semana regressam às origens. A diferença está na distância. Apenas 5 km separam a Culatra de Olhão.

Estou agora em Olhão, sentado no centro do terraço quadrado do AL Casa Grande, não fosse a região apelidada de cidade cubista. À primeira vista as casas parecem ter sido construídas pelos árabes. Mas não. Trata-se de uma obra de europeus, influenciada pela elevada emigração e pelo tráfego comercial que no passado ligavam Olhão a Marrocos. O sol está a pôr-se e curiosamente não sinto o entusiasmo que tinha de manhã cedo.

Atraso a escrita destas palavras como se o começar da noite fosse ser adiado por minha causa. Penso nas três pessoas que mais me marcaram este fim de semana. A Cristina e o Alexandre acolheram-me no seu espaço. Com o André, a história foi outra. Dirigia-me a pé para a Quinta do Marim já há mais de uma hora. Não que o caminho fosse assim tão longo. Eu é que o tornei demorado. Percorria a Estrada Nacional 125. Estava calor. Contornei a rotunda e uns metros à frente virei à direita. À minha frente, uma placa refere: “Privado, não entrar”.

Antes sequer de pensar voltar para trás chegou uma carrinha, de onde saiu uma mãe e um bebé. Perguntei onde era a entrada. Já a tinha passado há bastante tempo. Agradeci. Voltei para trás. Passado uns segundos ouve-se uma buzina. O André acenava-me. Ofereceu-me boleia. Assim que ele me faz a oferta soa-me na cabeça a frase que tantos pais repetem aos filhos quando são pequenos. “Não aceites nada de estranhos”. Confesso que não demorei muito a aceitar a sua boleia. Não que estivesse desesperado. Apenas porque com o passar do tempo tendemos a aproximarmo-nos de um equilíbrio que em miúdos não conseguimos alcançar.      

Em Olhão há boa gente. Não só a Cristina, o Alexandre e o André, mas também a Michelle, com quem muito consegui falar entre umas palavras em inglês, francês e espanhol; o rececionista da Quinta do Marim que me fez um desconto de amigo; a senhora que me deixou passar à frente no supermercado e até o senhor que me expulsou de uma espreguiçadeira que pensei ser pública quando pertencia a um concessionário.