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Ponto de Fuga

Ponto de Fuga

Coimbra faz-se a pé, mas só para quem tem pedalada

26.06.23 | Miguel Frazão

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A viagem a Coimbra estava há algum tempo planeada, mas nada fazia prever que de véspera fosse dormir tão poucas horas. Saí de Lisboa pelas 9:30h e do par de horas de caminho até à Cidade dos Estudantes, pouco ou nada me lembro. Coimbra estende-se nas margens do Mondego ao longo de uma encosta que nos leva a distinguir a parte baixa, da alta da cidade.

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O Vila Julieta Guesthouse, onde iria passar a noite, estava a pouco mais de 900 metros da Estação Rodoviária.

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Enganei-me ao pensar que 900 metros era coisa pouca, tal como estava equivocado quando achei que os 200 metros que separam o Parque Manuel Braga da Mata do Jardim Botânico se percorriam em poucos minutos. Quem for a Coimbra já sabe: é sempre tudo a subir. Mas claro, o caminho inverso é sempre a descer, e mesmo se estiver a pé, por favor, trave com o motor.

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Parque da Cidade Manuel Braga  

Uma vez que o Vila Julieta Guesthouse está situado na parte alta da cidade, decidi visitar o centro histórico de baixo para cima. Comecei junto ao Mondego, no Parque da Cidade Manuel Braga.

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No passado, o espaço foi várias vezes alvo de inundações. Agora, já não há conflito entre as águas do rio e as árvores do parque.

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As crianças partilham momentos com os pais junto ao coreto. Nos bancos, há quem esteja na companhia de um livro ou simplesmente a ouvir partes de conversas de quem por ali passa, que se misturam com o som dos carros que percorrem a estrada que segue em direção ao Largo da Portagem.

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Também eu sigo na mesma direção, mas o meu destino é a Praça do Comércio.

 

Praça do Comércio

Há uma Praça do Comércio em Lisboa, outra em Coimbra, e sendo elas distintas em praticamente todos os aspetos morfológicos, o tamanho talvez seja uma das principais diferenças. A Praça do Comércio em Coimbra é relativamente pequena.

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Os artistas independentes, que lá se instalam para permitir que os turistas tenham uma experiência agradável na cidade, tornam o espaço ainda mais acolhedor. Num dos extremos da praça está a Igreja de São Bartolomeu.

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No outro está a Igreja de S. Tiago.

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À volta do espaço há várias lojas e restaurantes. Curioso é o facto de a Praça do Comércio ter sido construída fora das muralhas da cidade. Aqui, os comerciantes podiam vender sem pagar impostos.

 

Praça 8 de Maio

Ainda na Praça do Comércio, junto à Igreja de S. Tiago, subo as escadas para chegar à famosa Praça 8 de Maio.

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No dia que lhe dá nome, em 1834, as tropas liberais do Duque da Terceira invadiram Coimbra e as ordens religiosas foram extintas.

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Mosteiro de Santa Cruz

O Mosteiro de Santa Cruz ficou inativo após a extinção das ordens religiosas, mas o legado histórico perdura até aos dias de hoje. Foi fundado em 1131 e é lá que se encontram o túmulo de D. Afonso Henriques e do filho, D. Sancho I. O poeta, Luís de Camões, estudou neste mosteiro, que ficou reconhecido como um importante centro de estudos teológicos.

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Tive ainda oportunidade de entrar na igreja, cujas obras se prolongaram por quase mais um século depois da fundação do Mosteiro de Santa Cruz.

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Deixo agora a Praça 8 de Maio e sigo pela Rua Visconde da Luz e pela Rua Ferreira Borges até me deparar com o Arco de Almedina.

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Arco e Torre de Almedina

O Arco de Almedina remete-nos para o tempo da ocupação islâmica. Esta é a porta de entrada na cidade muralhada. São muitos os que param para tirar uma fotografia com o arco e a torre como pano de fundo, mas são poucos os que sabem que aquilo que vemos atualmente resulta de uma reforma feita a pedido de D. Manuel I, no início do século XVI. Para chegar ao arco e torre de Almedina, primeiro há que passar pela porta da Brabacã, que se pode ver na imagem. 

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A Rua do Quebra-Costas faz a ligação entre a parte baixa e alta de Coimbra.

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Depois de a subir, faço um desvio à esquerda para visitar a Torre do Anto.

 

Torre do Anto

No interior da Torre do Anto pode-se visitar o Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. O nome Anto vem de António, já que o poeta António Nobre morou nesta torre entre 1888 e 1890, no período em que frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Regresso à Rua do Quebra Costas porque, agora sim, estou a chegar à Sé Velha de Coimbra.

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Sé Velha

A Sé Velha surpreende não só pela sua imponência, mas também por ter sobrevivido relativamente intacta até a atualidade. O claustro é conhecido por ser uma das primeiras obras góticas em Portugal. A Sé Velha foi também o palco da coroação de D. Sancho I.

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Sé Nova

Depois da Sé Velha é obrigatório ir à Sé Nova, até porque a primeira perdeu o estatuto de Sede Episcopal para a segunda, em 1772. A Sé Nova foi casa dos jesuítas da Companhia de Jesus entre 1598 e 1759. Nesse ano, Marquês de Pombal extinguiu a Companhia de Jesus e a Sé Nova ficou também ela extinta.

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Biblioteca Joanina

Apesar do cansaço acumulado nas pernas, não posso abdicar de entrar no Pátio da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra para espreitar o portal da Biblioteca Joanina.

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A beleza da arte barroca surge desvalorizada pelo facto de o edifício estar em obras. No entanto, a biblioteca não deixa de ser uma das mais “ricas” da europa.

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D. João V autorizou a sua construção e é por isso que no Piso Nobre podemos encontrar um retrato do rei, pintado por Domenico Duprã. Lá dentro estão à disposição mais de 200 mil livros, guardados por uma colónia de morcegos que impedem que as traças consumam as histórias que desejamos poderem ser lidas pelas gerações vindouras.

 

Jardim Botânico

O passeio por Coimbra está a chegar ao fim e resta-me agora visitar o Jardim Botânico.

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Não percorri os seus 13, 5 hectares, mas à medida que fui avançando dei por mim a entrar na zona de mata e a entusiasmar-me com os caminhos que por ali ia encontrando.

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Quando quis voltar para trás, estava de novo na zona baixa da cidade. Assim sendo, há que voltar a subir tudo para chegar ao Vila Julieta Guesthouse. É o que eu digo: Coimbra faz-se a pé, mas só para quem tem boa pedalada.

Texto e fotos: Miguel Frazão

A estadia foi oferecida pelo Vila Julieta Guesthouse.