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Ponto de Fuga

Ponto de Fuga

Culatra, Hangares e Farol: O caminho para a sustentabilidade, o passado que não se deixa esquecer e a vista para o ponto mais a Sul de Portugal

13.04.23 | Miguel Frazão

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Quando decidi passar um fim de semana em Olhão, a visita à Ilha da Culatra era um dos planos que mais desejava concretizar. Lembro-me que ainda antes de chegar ao AL Casa Grande, onde fiquei hospedado, já tinha no telemóvel uma fotografia enviada pela Cristina com os horários dos barcos para a Culatra e Farol, a partir do cais de Olhão.

O plano passava por seguir para a Culatra no barco que partia às 7h da manhã. Era o primeiro do dia. Antes de chegar à Culatra, o barco faria uma paragem na Ilha do Farol. Podia perfeitamente sair logo no Farol e no regresso viria diretamente da Culatra para Olhão, mas queria que a viagem fosse mais demorada. Precisava de tempo para ver o nascer do sol, apreciar a beleza da Ria Formosa, ver Faro de uma outra perspetiva e ter um primeiro contacto com a Culatra, Hangares e o Farol. Ainda que possam ser designadas como ilhas diferentes, as três aldeias pertencem ao mesmo troço de areia, que tem entre 6 e 7 km de extensão e cerca de 750 habitantes permanentes.

 

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Ilha da Culatra: o caminho para a sustentabilidade

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Desembarquei na Culatra, já depois do nascer do sol. A maré estava vazia e os pescadores percorriam as ruas, que não passam de finos empedrados por cima da areia, em direção às suas embarcações ou aos viveiros. Em toda a Ria Formosa estão registados 1041 viveiros para a produção de ameijoa-boa e ostras.

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Passear na Culatra não se resume a andar junto da ria ou na praia. Passa também por deambular pelas ruas delimitadas por casas rasteiras e nas quais apenas se circula a pé ou de bicicleta.

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É precisamente na ausência de carros que a Culatra começa a caminhar em direção à sustentabilidade. A eletricidade só chegou à aldeia nos anos 90 e os esgotos e água potável foram uma conquista do início da década passada, mas a Culatra tenta compensar os atrasos no saneamento básico ao ser uma das seis ilhas selecionadas para servirem de projeto piloto, naquele que se espera ser o caminho para a autossuficiência energética.

Depois de passar junto da escola, da igreja e do centro de ação social, entro no passadiço que me leva até à praia da Culatra. O destino agora é a Ilha do Farol, até porque conto apanhar o barco de regresso a Olhão, pelas 12:45h, no entanto, entre as duas aldeias fica aquela que parece esquecida por muitos – Hangares.

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Ilha dos Hangares: o passado que não se deixa esquecer

Apenas 95 pessoas podem dizer que vivem em Hangares. Há um cais de chegada para os barcos, mas há muitos anos que não há nenhuma ligação entre as cidades de Olhão e Faro e a aldeia.

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O único contacto que tive com Hangares foi durante a travessia de barco. Para além das casas que por lá ainda existem, o que salta à vista é o arame farpado. É esse arame farpado que leva os mais curiosos a descobrir a história da ilha, assim como a origem do nome que lhe foi atribuído.

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Durante a Primeira Guerra Mundial foi ali que construíram dois hangares para que pudessem aterrar os hidroaviões que faziam a vigilância aérea entre Vila Nova de Mil Fontes e Vila Real de Santo António. 

O arame farpado é uma obra já dos anos 60. Com Hangares sob o domínio da Marinha Portuguesa, decidiu-se construir aquele que viria a ser apelidado de Polígono de Tiro da Culatra, onde se inativavam explosivos. Em 1998 o Polígono de Tiro foi abandonado e hoje resta o arame farpado para assinalar a existência de Hangares, a aldeia à qual só se chega desembarcando na Culatra ou no Farol.

 

Ilha do Farol: a vista para o ponto mais a Sul de Portugal

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O meu passeio terminou na Ilha do Farol. Nos dias que correm, no núcleo do Farol, o ambiente de aldeia contrasta com a massa turística que frequenta a praia e os bares/restaurantes.

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Ao longo de toda a manhã, quer estivesse na Culatra ou em Hangares, o Farol de Santa Maria surge quase sempre no enquadramento de qualquer fotografia. Para subir os 220 degraus e alcançar o topo do Farol que tem 46 metros de altura e alcance de cerca de 25 milhas (cerca de 40km) é preciso que seja quarta-feira. Ainda assim, não é necessário ir para um sítio tão alto para se ver o ponto mais a Sul de Portugal - o Cabo de Santa Maria, situado na Ilha Deserta, a ilha vizinha do Farol.

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Informações essenciais:

Horários dos barcos: Olhão – Culatra – Farol

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Preços dos Bilhetes:

Olhão - Culatra – 2 euros

Olhão - Farol – 2,30 euros

Texto e fotos: Miguel Frazão