Mourão: Em "terra de ninguém" há sempre muito por descobrir
A beleza da pequena vila de Mourão é muitas vezes abafada pelo protagonismo que se dá à vizinha Monsaraz.
Ali estamos a 8 km de Espanha. A paisagem é marcada pela alternância entre o campo e o Grande Lago do Alqueva. As águas paradas, o azul claro e, sobretudo, as suas elevadas temperaturas tornam-no especial.
No entanto, o Alqueva não se resume à sua estética. Naquele domingo passado em Mourão, o lago contribuiu para boas fotografias e para me refrescar um pouco, ainda que a água estivesse morna. Já no ano em que nasci (2002), a construção da barragem do Alqueva estava a resolver um problema bem mais importante: a seca extrema.
Quando se resolve um problema, criam-se novos. Foi que aconteceu à Aldeia da Luz, que com a construção da barragem ficou submersa pelas águas do Alqueva. Há agora a Nova Aldeia da Luz, construída nos mesmos moldes da antiga, mas acabei por não a visitar, pois Mourão recebeu todo o protagonismo naquele dia.
Castelo de Mourão
Em Mourão ninguém se perde. Basta ver se nos estamos a afastar ou a aproximar do castelo, que lá no alto orienta o nosso caminho.
Dá para circular em toda a extensão das muralhas e tive ainda oportunidade de subir às torres, embora não exista grande segurança, dado que a maioria das proteções está destruída.
Ainda hoje pairam no ar as dúvidas sobre a data de construção do castelo. Diz a inscrição da lápide de fundação que as primeiras pedras se terão erguido algures em 1343, no reinado de D. Afonso IV.
Mas também há documentos que apontam D. Dinis como o responsável por este património tão importante no período da crise dinástica de 1383-1385, em que Portugal correu o risco de ceder o trono aos espanhóis.
Igreja Matriz de Nossa Senhora das Candeias
Na gíria comum referimo-nos à Igreja sem o “matriz” lá pelo meio. Fica Igreja Nossa Senhora das Candeias. Está integrada no castelo.
A porta está aberta e entro para espreitar. Não tiro fotografias por respeito a quem lá está a cumprir a sua devoção religiosa. Sinto apenas o fresco que ameniza a temperatura no seu interior e admiro as pinturas e os elementos decorativos que caracterizam esta igreja do século XVII. O terramoto de 1755 deixou estragos, mas a sua reconstrução a cargo da Ordem de Avis e a intervenção de conservação e restauro nas décadas de 1960 e 1970 deixaram-na com o aspeto que podemos ver hoje.
Igreja de São Francisco
Assim que deixo o castelo sinto uma espécie de vazio porque sempre que procurei por Mourão na internet, os resultados centravam-se no ponto mais alto da vila ou na praia fluvial, onde só iria mais tarde. Por outro lado, parecia haver uma menor responsabilidade por não ter de contar o tempo para ir aqui ou ali. Estava por minha conta.
Ao explorar Mourão fui encontrar a Igreja de São Francisco. Foi edificada como capela da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco e acredita-se que a sua construção tenha terminado algures no reinado de D. João V.
Igreja da Misericórdia
A Igreja de São Francisco está ligada à Igreja da Misericórdia por um arco construído recentemente. A sua fundação remete-nos para o ano de 1743.A Igreja está na Praça da República, ao lado do antigo edifício da Casa da Misericórdia.
Jardim Público
No centro da Praça da República está o Jardim Público. Foi lá que me sentei a almoçar. Durante aquela meia hora ninguém visitou o jardim. No entanto, houve quem me tivesse visto por ali.
Praia Fluvial de Mourão
A Praia Fluvial de Mourão prometia ser o meu entretém da parte da tarde.
Para lá chegar precisava de percorrer quase dois quilómetros a pé, com o termómetro a marcar 35 graus. O caminho foi penoso. Por mim passaram alguns carros que desviavam o trajeto para me dar espaço.
Quem frequentava a praia eram sobretudo os espanhóis. Estamos ali junto da fronteira. Um passadiço de madeira faz a ligação entre o parque de merendas e a praia, que no verão é vigiada. Há chapéus de sol para garantir algumas sombras.
Na água há um escorrega e uma plataforma para mergulhar.
Ali as pessoas parecem respeitar a ideia de tranquilidade associada àquele espaço. Fico pela praia um bom par de horas, mas há que regressar a Mourão para apanhar o autocarro de regresso a Lisboa.
Enquanto não chego à paragem de autocarro, paro para ver a escola e deambular pelo jardim que se encontra mesmo à frente com máquinas de ginásio ao ar livre.
Saio de Mourão com um grande desejo de regressar. Não só pela paisagem, mas porque sei que a Dona Quinita estará por lá para me receber.