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Ponto de Fuga

Ponto de Fuga

Uma questão de oportunidade

Sintra, Costa Oeste

16.09.22 | Miguel Frazão

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O plano estava traçado desde o início da semana. Sábado sairíamos de manhã. Em família. Não muito cedo. É fim de semana. Iríamos a Sintra. Um passeio junto ao Castelo dos Mouros, seguido de pequenas paragens ao longo da costa. O almoço seria já na praia da Foz do Arelho. Só a conhecia de nome. O entusiasmo levou-me a querer descobri-la antes de tempo. Sugeri levar o fato e a prancha de bodyboard para a eventualidade de haver ondas adequadas ao meu nível de principiante. Proposta aprovada.

Chegou o dia. Acordei cedo. Não pelo entusiasmo, mas por me ter esquecido de desligar o despertador da noite anterior. Estava tudo pronto. Fechei o portão de casa enquanto vestia uma camisola. Previa já o nevoeiro e a humidade a que Sintra sempre nos habituara. Naquela manhã, não quis o ar fresco do Atlântico abraçar-se ao ar quente do Mediterrâneo. O sol tomou o lugar da neblina. Tal como os imprevistos tomaram o lugar dos planos.

O carro atravessava a serra a ritmo lento. Não havia pressa. Nem queríamos surpreender quem viesse no sentido oposto. Percorro um espaço que é testemunho de quase todas as épocas da história. Começou no Neolítico. A agricultura surgiu e os povos lutavam pelas regiões mais férteis. Os vestígios desta época estão perto da capela do Castelo dos Mouros. Gostava de lá ter ido. Passear ao redor da fortificação fundada no período da ocupação muçulmana. Esteve sob o domínio dos mouros até 1147. Foi depois entregue a D. Afonso Henriques. Entre as muralhas, uma povoação moura viveu naquele que é hoje conhecido como o Bairro Islâmico. Os Cristãos reocuparam o espaço e o bairro foi desaparecendo. Também os cristãos acabaram por sair. Deixou de ser preciso tanta proteção.

Observávamos o que nos rodeava enquanto procurávamos um lugar para estacionar. A distração impediu-nos de ocupar o único que estava livre. Aqui não há como voltar atrás. O Castelo dos Mouros fica para uma próxima. Seguimos viagem rumo ao mar. Parámos na Praia das Maçãs. Bandeira Verde. Boas ondas. Houve oportunidade de ficar logo ali. A necessidade de cumprir o plano que já não fora seguido à risca levou-nos a manter o rumo da Foz do Arelho. Pelo caminho ainda parámos nas Azenhas do Mar. A Grécia de Sintra. É assim que lhe chamo.

O mapa indica a Foz do Arelho. A cabeça pede para voltar à Praia das Maçãs. Foi o que fizemos. Estendemos a toalha. Vesti o fato isotérmico. Peguei na prancha e calcei as barbatanas. Cedo demais. A maré estava muito vazia. Ainda tinha de andar bastante. Tropecei três vezes em mim mesmo. Consegui chegar às ondas. Bandeira Amarela. Senti-as crescer. Era psicológico. Não queria mergulhar nas ondas que rebentavam em cima de mim. Mas o meu instinto obrigava-me. Um fiozinho de água escorria-me pelas costas. Não tinha frio. O cansaço ocupava-se da função que uma lareira tem no inverno. O receio das ondas maiores dissipou-se. Já o respeito pelo mar, permaneceu. Sempre.

Se gostava de ter ido à praia da Foz do Arelho? Sim! Não sei se pelas ondas do mar, se pela calma da Lagoa de Óbidos. D. Carlos I também costumava lá ir. Sempre na companhia dos pais, o Rei D. Luís e a Rainha D. Maria Pia, e o irmão, o Príncipe Afonso. Também um dia lá irei com os meus pais e o meu irmão. A não ser que pelo caminho apareça algo melhor. É tudo uma questão de oportunidade.

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